Natural de Luanda (Angola), Nanutu (António Manuel Fernandes) é um prolongamento do seu saxofone, ou será ao contrário?
Ao lado de Bonga, Waldemar Bastos, Paulo Flores e da saudosa Cesária Évora, a sonoridade de Nanutu é de tal ordem que o coração bate mais forte e a alma voa, voa sem parar.
Do saxofone, seu companheiro de longa data, Nanutu tira poesia mulata e sonhos do mundo gerados em África, mostrando que por lá o horizonte sabe e cheira a infinito.
Nanutu começou pela bateria, namorou o clarinete mas, ainda puto, apaixonou-se pelo sax que, afinal, é o grande amor da sua vida e a quem, em cada nota, em cada sonoridade, dedica das mais belas poesias escritas na única linguagem que todos conhecem, o amor.
Em Luanda, capital de muitos sonhos e maternidade de muitas ilusões, tocou n’ Os Merengues, aí bebendo a água do Bengo que, toldando a alma do artista, se transformou em semba e kizomba.
Em Cuba, por exemplo, tocou com Compay Segundo e trabalhou com Pablo Milanês, via Luís Represas.
Tal como Rão Kyao, Nanutu também pôs o seu sax a curtir fados como Não Venhas Tarde; Foi Deus; Degrau em Degrau; Júlia Florista; Adeus Mouraria; Rosa Enjeitada e Canção Do Mar.
Para os angolanos, mas não só, a melhor forma de se banharem e rejuvenescerem nas suas próprias lágrimas é fechar os olhos, sentir o pôr-do-sol das terras do fim do mundo e cheirar a saudade enquanto ouvem o Nanutu saxofone ou o saxofone Nanuto.