St. Vincent é definitivamente o novo camaleão da indústria da música, assumindo personagens e vidas distintas de disco para disco. Se em Marry Me (2007) e em Actor (2009) ainda nos chegou sem esta visão, em Strange Mercy (2011) Annie Clark já começa a apresentar algo diferente na sua imagem para em St. Vincent (2013) nos surgir com uma identidade completamente diferenciada interpretando o papel de rainha com acessos de loucura que lhe caem como uma luva.
Em 2017 com Masseduction veste a pele de alguém mais sexual, sem preconceitos de mostrar o corpo e as suas linhas, entrando por um caminho pais pop na imagem e na sonoridade. Este trabalho trouxe-lhe finalmente a luz merecida e o mundo da música finalmente acordou para a excelência de uma artista inigualável nos dias que vivemos, onde tudo é tão fútil e descartável. Masseduction deu aso a MassEducation, uma recriação a voz e piano que nos apresentou o seu lado mais delicado e sensível mas por outro lado, a sua versatilidade enquanto compositora e performer.
Eis que 2021 nos trará Daddy’s Home. Não querendo ficar com as expectativas muito elevadas, porque isto de se apresentar singles tem muito que se lhe diga e o que ouvimos com os temas de avanço Pay Your Way in Pain, The Melting of the Sun e agora com Down, já nos deixou as borboletas da barriga completamente em êxtase.
Em entrevista ao site interviewmagazine, Annie Clark falou dos seus primeiros passos na música revelando que o seu bilhete para este meio foi tocar baixo numa banda de escola porque os rapazes queriam todos ter o protagonismo da guitarra.
Quanto ao processo criativo, Annie Clark confidenciou que por vezes vem-lhe “uma melodia à cabeça” e que grava no iPhone antes que se esqueça e por vezes tem toda a história escrita e depois busca por uma melodia que encaixe de forma a que “a música tenha um coração e um ponto de vista”.
Annie Clark continua a gostar de viver nos meios mais alternativos, porque de ser o “underdog faz com que tenhamos de trabalhar mais para provar o nosso talento” mas o aumento exponencial dos seus ouvintes, muito fruto aos últimos trabalhos mais próximos do pop rock, é algo que não lhe tira o sono porque é fruto do seu trabalho e da sua audácia enquanto criadora de música.
Abordando o tema da vulnerabilidade, Annie acredita que é no fundo um super poder. Muito do seu trabalho é “autobiográfico” e funde-se com narrativas criativas, proporcionando-lhe viver naquele limbo do não saber se estamos a contar uma passagem real ou se estamos embebidos dentro duma ficção imaginativa.
Daddy’s Home é um exemplo desta dicotomia, pois aborda temas da sua vida, como no título homónimo deste disco onde descreve-nos as visitas que fez ao seu pai enquanto esteve preso, mas também tenta homenagear os Steely Dan, uma das suas bandas favoritas.
Daddy’s Home já se encontra disponível para audição nas plataformas de Streaming