Quem gosta cuida. Daí, se um artista que me é indiferente lançar um “albumzinho” com “musiquinhas”, não vou perder horas de sono. A vida continuará indiferente a mais um pedaço de plástico na prateleira dos outros ou a uns tantos megabites nas nuvens da imensa internet. O caso muda de figura quando se fala de um artista pelo qual tenho apreço.
Ponto prévio: Turn Blue não é um mau álbum. Logo a abrir tem uma excelente canção, “Weight of Love” que excede os sete minutos de duração, uma melodia a escorrer melancolia que pede as mesmas estradas citadinas nocturnas que Adam Granduciel nos habituou a abrir com os seus The War on Drugs.
Detroit ou New Orleans poderiam não bastar para estes sete minutos de guitarra, voz e humanidade. Mas logo de seguida aparece a canção “In Time”, um pop que me tira as palavras com a sua vulgaridade e me obriga a acalmar e fazer um parágrafo.
A guitarra algo despojada de Dan Auerbach e a bateria sonolenta de Patrick Carney encontram nos arranjos radiofónicos de Danger Mouse uma produção obediente que cai bem nesta incursão simpática dos Black Keys. É de facto um álbum para rádio, feito de singles fáceis de ouvir e fáceis de gostar. Fáceis também de esquecer. As letras são algo insipidas e os ritmos familiares. Fica a sensação que temos um disco de alguém que tem um ritmo semelhante ou usa um instrumento consonante com aquele que se ouve algures em Turn Blue.
Não é um mau disco, torno a dizer, mas daqui a uns cinco ou seis anos, quando os Black Keys fizerem um Best Of, ficaria muito surpreendido se este álbum fornecesse mais do que duas músicas para esse compêndio.