Os Capitão Fausto trouxeram-nos Gazela em 2011, um disco de estreia que alcançou o sucesso rapidamente, marcando presença nas playlist das rádios nacionais e permitindo ao colectivo lisboeta mostrar o seu talento em concerto, marcando presença em festivais de renome, como foram os casos do festival Paredes de Coura e SBSR.
Com “Pesar o Sol” título do novo disco que tem lançamento agendado para Janeiro de 2014, os Capitão Fausto partiram numa mini digressão de 8 concerto por salas e clubes.
Foi antes do concerto no Tertúlia Castelense que partilhamos uns momentos com Domingos Coimbra e Tomás Wallenstein.
Depois do sucesso de Gazela, sentiram uma maior pressão para fazer este novo disco?
Domingos Coimbra (DC): Não, eu acho que sentimos mais motivação para fazer outro.
Tomás Wallenstein (TW): Teve o efeito oposto…
DC: Apetecia-nos fazer mais coisas, mas também não achamos que o Gazela fosse um sucesso do outro mundo.
TW: Foi um sucesso disfarçado
DC: Deu para tocarmos muito ao vivo e em lugares muito importantes, mas na verdade nós não sentimos um grande sucesso, e talvez por isso não sentimos grande pressão ao fazer outro disco.
Este novo disco, é uma continuação, uma evolução ou será um virar de página?
TW: Temos de escolher uma dessas três? (risos) Eu acho que é uma progressão. É um processo que surge naturalmente com o passar dos anos. A banda está a ficar mais velha e por isso está a crescer. Pelos ensaios que fazemos e pelos concerto que damos, há certas correcções necessárias que nos conseguimos aperceber, mas há coisas que mudam porque deixamos de ouvir coisas e passamos a ouvir outras, mas no geral acho que é um passo à frente natural.
O Gazela possibilitou a presença em palco importantes como referiram que vos proporcionaram críticas extremamente positivas. Como se sentiram ao ler e ouvir estes elogios?
DC: Eu acho que qualquer crítica boa nos faz sentir bem.
TW: Nós tentamos não ligar muito, porque na verdade a crítica não passa de uma opinião. Por vezes falam muito bem sem grande razão ou mal sem conseguir explicar o porquê.
DC: Nós conseguimos saber se um concerto nos correu bem ou mal, e também nos guiamos por isso. Claro que nos sabe bem ler críticas positivas, mas há sempre pessoas mais competentes do que outras para fazer um apanhado do que se passou num concerto porque têm mais conhecimento para isso, mas claro, toda a gente se sente bem quando tem uma crítica positiva.
Isto tudo faz de vocês uma banda de palco? Ou preferem o estúdio?
DC: São coisas diferentes. Eu gosto igualmente dos dois. No outro dia perguntaram-nos qual era a pior cena da estrada e do estúdio, e para mim, a pior cena da estrada é ter que voltar para casa e a pior do estúdio é ter pouco tempo.
TW: São coisa diferentes. Eu até acho que existem três vertentes no trabalho de banda, o ensaio, o estúdio e os concertos. O ensaio é o mais soft, vai-se fazendo, é bom. A parte de estúdio é muito trabalhosa mas é sempre uma excitação e requer preparação.
DC: E nós gostamos imenso dessa preparação. E neste disco deu-nos um gozo especial. Primeiro porque foi composto em duas semanas e depois porque foi gravado numa adega. O Nuno Roque levou o estúdio todo para lá e tivemos que fazer todo um trabalho de som que não tínhamos feito no Gazela e que nos deu um gozo especial.
Como está a correr a apresentação destes novos temas?
TW: Nunca dá para perceber muito bem…
DC: Quando já conhecem as músicas tu sentes que as pessoas estão com a músicas, quando não as conhecem ficam sempre retraídas. Nós sentimos que estão atentas, mas estranha-se sempre, mas no fim as pessoas vêm ter connosco e têm dado feedbacks positivos, “gostei imenso desta ou daquela” e isso deixa-nos contentes. Aliás, o que nos fez partir em digressão foi tocar músicas novas. As pessoas já conhecem dois temas novos mas há mais 3 temas que estamos a tocar e a recepção tem sido boa.
Como vêm o universo musical actual? Acham que o mercado tende a mudar?
DC: Uma coisa engraçada foi o Record Store Day de 2013 onde o vinil teve uma subida muito grande, mas claro o CD está sempre a cair.
TW: Eu acho que a industria já se apercebeu que é completamente incontornável o digital e a música ser à borla, independentemente do que se possa fazer. O vinil é formato que se vai manter, e em 10 anos o CD irá desaparecer.
DC: Eu acho que o CD não desaparece. É o elemento de marketing…
TW: Na minha opinião, o elemento de marketing vai ser exclusivamente o vinil. Quem compra o CD é quem gosta mesmo da banda, porque todos sabemos que podemos ter o disco de graça. O vinil é a mesma coisa, é para coleccionadores, para quem gosta mesmo das bandas…
DC: Tu dizes que o CD está em queda, mas a Beyonce lança um disco e vende dois ou três milhões nos Estados Unidos… Eu até admito que o CD possa desaparecer mas não é em 10 anos como o Tomás disse.
TW: Em 10 anos muita coisa acontece…
O que acham dos sistemas tipo Spotify?
DC: É um passo muito grande para tentar oficializar um pouco as coisas. Admito que seja difícil controlar aquilo, mas acho que é fixe. A malta está a tentar adaptar-se ao fenómeno rápido da internet e dos downloads ilegais, e tentar garantir que o royalties cheguem aos artistas.
TW: Como músico é-me um bocado indiferente. Eu estou completamente enraizado na cena da música digital, e já nos apercebemos que quem está na música, não ganha verdadeiramente dinheiro com discos, mesmo os que ganham milhões, ganham muito mais com tudo o resto. Quando começamos isso já era a “regra”!
DC: No nosso caso, há pessoas que sacaram o álbum e no concerto acabaram por comprar o CD.