A nossa psicologia eminentemente visual tende a impelir a nossa audição à formação de imagens que se associem aos sons que ouvimos. É essa a explicação simplista de ouvir/ver os músicos instrumentais como pintores de cenários ou compositores de bandas sonoras para uma qualquer cena cinematográfica ou quotidiana.
Os Dead Combo não fogem a essa composição pictórica. É-nos, então, fácil viajar nas asas dos discos do duo lisboeta. Se em “Lusitânia Playboys” víamos de perto os “pintas” e os maus rapazes profissionais da noite lisboeta e se em “Lisboa Mulata” a mestiçagem rítmica dos ventos africanos formava uma ponte aérea entre nós e a Africa que nos é tão familiar, neste mais recente “A Bunch of Meninos” parece haver uma deriva continental que nos aproxima do continente americano de norte a sul. Além do prodigioso título e da cinematográfica capa do disco há algum do blues norte-americano (Mr Snowden’s Dream, Welcome Simone, Waits) e muito do caos alegre do centro/sul-americano (Zoe Llorando, Dos Rios).
Mas muito além das viagens para fora, parece ser um fio condutor na obra mais recente dos Dead Combo o apuro da composição de uma sonografia da portugalidade em toda a dimensão popular das festividades (Dona Emília, Miudas e Motas) e da melancolia urbana desta nossa pequena dor, amestrada ou que nos amestra e que O’Neill disse trazermos pela mão, assim tão “à portuguesa, tão mansa quase vegetal” (Povo que cais descalço, B.leza). Há uns anos deram-me Yann Tiersen para eu entender a raiz da França e o que era ser francês não-parisiense, marselhês ou monegasco. Mais do que o agora universal Rodrigo Leão, parecem-me serem os Dead Combo os compositores da nossa banda sonora colectiva.
Não precisamos de ter bandas sonoras para nos movermos, respirarmos ou amarmos mas até a realidade de uma nuvem se torna mais bela se nela virmos uma figura que nos é familiar ainda que díspar da opinião de um amigo que está mesmo ao nosso lado. Os spots de promoção das comemorações dos 40 anos de 25 de Abril da TSF têm como mote inicial uma dúzia de acordes da belíssima “Esse olhar que era só teu” do anterior disco e é impossível não prestar atenção de aí em diante ao que se diz após a breve sinfonia lânguida da chorosa guitarra.
É impossível então, na minha opinião, ser o mesmo português depois de ouvir com atenção o “A Bunch of Meninos