O Porto foi uma vez mais contemplado com a visita duma banda requintada e uma vez mais a cidade não lhe conseguiu dar o valor merecido. A cidade do Porto que está tão agarrada a espaços de diversão onde o único objectivo é “matar alguém” ao som de sonoridades básicas que desperta o animal existente em cada um de nós, esquecendo-se de experenciar momentos memoráveis como o da noite de 4 de Fevereiro no Hard Club. Depois dá gozo ouvir os portuenses a dizer que as promotoras só se lembram de Lisboa. Natural, quando oferecem à cidade requinte e bom gosto, a cidade agradece com pouco mais de 300 pessoas, culturalmente evoluídas tendo em conta o panorama intelectual da cidade.
Agora que já começamos com as palavras reprovatórias que a Invicta merece ouvir passamos para o importante, o concerto dos Fat White Family no Hard Club.

É com Auto Neutron, uma espécie de tema intro do aclamado Champagne Holocaust de 2013 que a banda inglesa abre as hostilidades no Hard Club. O público presente rapidamente passou a mostrar as emoções que estavam bem à flor da pele, tal era a saudade de 4 anos sem concertos dos Fat White Family em Portugal. Seguiu-se I Am Mark E Smith e já ninguém se continha, nem na plateia, nem em palco, tal era a vontade de Saul Adamczewski tirar a roupa e saltar palco fora para dançar com os fãs.
O público e a banda já se encontram em comunhão e Fringe Runner é a primeira amostra do último Serfs Up. Aqui notou-se um menor comprometimento do publico com os músicos, mas não o contrário. O colectivo do Sul de Londres mostrou-se sempre muito ligado à sua performance não querendo desiludir os presentes na sala.
Heaven on Earth marca o regresso ao início da formação e as sonoridades primárias da banda. Já se ouve no publico coisas como “são soberbos” ou “sensacional”.

O concerto aproxima-se do fim e Feet, single de lançamento de Serfs Up provoca algo parecido com uma erupção no Hard Club e põe a plateia a cantar, dançar e saltar incessantemente. Seguiu-se The Whitest Boy On The Beach e a experiência foi praticamente a mesma, muita agitação e felicidade expressa nos rostos de todos.
Bomb Disneyland é tema escolhido para o encerramento da noite e aqui já não há pudores nem consciência que abrande a intensidade oriunda da energia despendida em cima do palco. A banda despede-se e recolhe aos camarins, mas o público pedia mais. Durante uns angustiantes minutos pensou-se que a festa sublime tinha terminado, mas somos presenciados com mais uma música. Taste Good With The Money é o tema escolhido para o encore e agora sim, o pouco Porto presente no Hard Club está realizado e completo.
Podíamos dizer que foi um noite de sonho para a cidade mas foi só para os que fazem da música ar para a vida. Mais logo é a vez da capital.

Texto e Fotografia: Nuno Coelho