Francisco Silva (Old Jerusalem) na primeira pessoa

Francisco Silva (Old Jerusalem) na primeira pessoa

Como caracterizas a evolução da tua música desde o primeiro álbum em 2003 até agora?

Eu sinto uma evolução muito grande mas se me for pôr do lado do ouvinte, que não está dentro do processo de escrita, acho que as modificações foram subtis. A linha é genericamente a mesma desde o início. Não sou nada adepto, mesmo enquanto consumidor de música, de bandas que saltam de estilo para estilo. Normalmente gosto de coisas que vão construindo um catálogo sólido. Por outro lado, há outra vertente, que é, é o que eu consigo fazer. É o que sai. Quando tentas sair disso voluntariamente, por uma questão de variedade forçada, regra geral o resultado não convence. Opto por ir aceitando as mudanças que vão acontecendo e tentando propiciar mudanças subtis, normalmente tentando que seja de maior qualidade mas sem pensar muito na questão da diversidade. É homogéneo e acho que vai ser durante o tempo de vida do projecto.

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E como é o teu processo criativo? És muito metódico, inspiras-te em bandas que ouves..?

Eu sou bastante influenciado pelo que ouço, embora não seja por ouvir que me sinto motivado a escrever, mas sim ouvir com atenção para ver o que está a acontecer naquela canção, o que é que eu posso incorporar. Fiz até agora cinco discos e o que se nota enquanto escritor é que vais esgotando truques, assuntos. Há sempre uma vontade de recriar mas tens de acreditar naquilo que estás a fazer. Sentir que aquele conjunto de acordes te motiva a continuar a escrita. Há um outro lado da questão que é, eu forço-me ainda assim a escrever. Se queres manter a vitalidade do projecto, seja com maior ou menor nível de actividade, mas que ele esteja lá, não podes esperar por uma inspiração divina. Se vais estar à espera daquelas palavras perfeitas que vão aparecer, ou a melodia perfeita ou aqueles acordes perfeitos, não vai acontecer. Há um processo também de forçar.  É uma luta de criar vontade a ti próprio , de querer que as coisa avancem. E ao mesmo tempo há momentos de inspiração que funcionam muito bem e que gostavas que acontecessem permanentemente.

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Com um percurso já significativo, que balanço fazes até aqui?

Tem corrido bem. Superou as expectativas iniciais. Ficou muito aquém das expectativas que depois vais fazendo à medida que o processo vai avançando. Por outro lado, a avaliar objectivamente nunca correu mal. Foi sempre bem recebido, mesmo num contexto em que a indústria discográfica está caótica, as vendas continuam a ser as mesmas, o que é uma surpresa positiva. O projecto mantém-se em actividade, com 11 anos, que é muito mais do que eu esperaria que durasse, com boa aceitação, as pessoas que gostam, continuam a gostar, conseguimos chegar a mais algumas pessoas. A avaliação objectiva é muito positiva. Subjectivamente, eu queria muito mais.

Projectos para o futuro?

Vai haver mais um disco que deveria ter saído este ano mas não vai sair por questões práticas. Porque é um ano péssimo para fazer isto. Há muitas dificuldades práticas e financeiras que condicionam o projecto.
Vai atrasar um bocadinho mas vai acontecer. O próximo disco vai determinar se as pessoas ainda querem canções de Old Jerusalem neste formato. Se quiserem há mais, mas agora, cada vez mais, tomo o projecto disco a disco porque não se vê muito bem como as coisas vão evoluir, como as pessoas vão consumir. Há um nível de incerteza enorme em relação ao mercado, tenho dúvidas até se ainda há um mercado funcional.

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Francisco Silva foi desafiado tocar um dos temas dos Old Jerusalem ao cavaquinho… vejamos o resultado…

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