Os Coliseus, pela sua imponência e história, são as salas por excelência para confirmar um artista. Há um ritual iniciático no qual esgotar os Coliseus de Porto e Lisboa é o que promove um artista. Por mais que salas especializadas como a Casa da Música, CCVF ou CCB organizem grandes concertos é nos Coliseus que os artistas sobem de escalão.
Gisela João esgotou com facilidade o Coliseu do Porto com público dos 8 aos 80 anos. Vi por lá miúdos sorridentes e velhos aprovadores, ouvi risos quando Gisela contou uma das suas histórias mirabolantes com taxistas e ouvi também vários suspiros colectivos no final das músicas mais emocionantes com Gisela não poucas vezes a cantar de joelhos no chão.
Não se nota a juventude de Gisela, ela agarra desde o início no público de uma forma que veteranas só conseguem lá para o meio do concerto, quando sacam dos hits radiofónicos. Não há muitas artistas que na mesma noite, com a mesma precisão, juntassem um fado escrito por Capicua acerca de um encontro com um senhor extraterrestre, fados do grande João Ferreira Rosa e um rancho folclórico de Barcelos. Muito menos se espera isso de uma rapariga abaixo dos 40 anos com um único gravado.
A guitarra em estado de graça de Ricardo Parreira merecia um som mais subtil do que o do Coliseu oferece e ficou a ideia que após uma pequena falha técnica, que Gisela fintou com elegância, o som conseguiu melhorar um pouco.
No cenário, além de uma árvore, estava escrito “Gisela João” numa substância que parecia poliuretano, pairando sobre um mar pintado. O poliuretano é uma espuma que expande quando contacta com o ar sem nunca perder resistência e leveza. Boa analogia para Gisela, uma substância que expandiu num Coliseu inteiro e expandirá com o disco que ainda este ano será editado. Tudo isso sem parar de bailar com a leveza de uma nuvem, em locais aquém e além mar.
Gisela João estará no Coliseu de Lisboa dia 31 de Janeiro.