Levitation France 2022 – II Dia

Levitation France 2022 – II Dia

O segundo dia de Levitation France arranca com a ameaça de chuva e que mais tarde se consumou e com o som dos Servo, coletivo francês que nos proporcionou um início de tarde com texturas mais abrasivas fruto do psicadelismo viciante que nem a chuva retirou o público da frente do palco. Os Servo mostraram-se muito competentes, energéticos e capazes de promoverem um espetáculo cheio de todos os ingredientes que o seu público precisa.

A chuva dá-nos uma trégua e chegam-nos mais uma banda francesa, os You Said Strange assentam as suas sonoridades em temas mais melodiosos bem característicos do indie rock e com toda a intensidade do género. Com temas meticulosamente trabalhados pelo conjunto francês que foi produzido por James Goodwin, os You Said Strange amplificam a sua música em concerto com temas talhados para soarem na perfeição em palco, fruto das guitarras abrasivas e da inquietude dos seus elementos que nos deixa com vontade de acompanhar esta banda.

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Seguem-se as Death Valley Girls naquele que era um dos momentos mais esperados por nós. As californianas mostraram-se sempre muito descontraídas e livres de complexos com a atitude assinalável. Com a estreia em tour da baixista Sam Handwitch, a banda apresentou-se em palco como se Sam fizesse parte da banda desde o início onde lhe foi dado todo o protagonismo necessário para entrar nas dinâmicas do coletivo de Los Angeles.
Com um alinhamento que tentou percorrer toda a discografia, dando um destaque naturalmente maior ao último disco Street Venom, as Death Valley Girls presentearam-nos com um espetáculo irrepreensível onde todos os condimentos foram minuciosamente utilizados, dando-nos o sabor que o nosso palato estava a precisar naquele momento.

Tempo para recebermos os Gustaf que aterram em Angers não só como uma coletivo musical, mas também como interpretes de toda uma peça meticulosamente ensaiada e eximiamente interpretada.

Com sonoridades bem características do indie rock aprimoradas por texturas da pop e complementadas pela irreverência teatral de Lydia Gammill, vocalista dos Gustaf, obtemos irreverência e uma espécie de catarse de todos os demónios que nos assolam.

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O dia vai seguindo e seguem-se os Bruit, um coletivo francês que nasce em 2016 da cinzas de bandas com sons mais pop e que quando surgiu servia para os seus membros libertarem em estúdio todos os seus demónios em ambientes mais sombrios mesclados com texturas eletrónicas.

em 2018 decidiram abordar os palcos para mostrar ao mundo o resultado do estúdio e a decisão foi a melhor. No Levitation, os Bruit foram fieis a si próprios e arrebataram a plateia com uma atuação intensa, forte e isenta de macula.

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Kim Gordon é a Senhora que se segue. E que Senhora. Não precisamos de perder tempo a explicar quem é Kim Gordon e quem não souber, não merece o nosso respeito.

Aos 69 anos mantém a sua natureza e a atitude não é sequer desviada da sua identidade. Grrl power desprovido de grandes artefactos dedicando toda a energia em palco para aquilo que nos move, a música. Kim Gordon apresentou-nos o seu último disco No Home Record de início a fim onde temos laivos de Sonic Youth em alguns momentos e experimentalismo noutros, com alguns temas a roçar o hip hop e o spoken words.

Desprovida de emoções, Kim Gordon e as suas acompanhantes de palco presentearam-nos com um concerto irrepreensível onde a simbiose entre o abstrato e o concreto foi o casamento perfeito.

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Com a noite cerrada recebermos os australianos Pond numa performance energética do front man Nick Allbrook que apresentou passos de dança capazes de convencer qualquer júri de um concurso de talentos dançarinos.

A actuação dos Pond ficou-se pelos 11 temas e tentou percorrer a discografia do coletivo australiano, sendo dado um destaque maior para 9, disco editado em plena pandemia.
America’s Cup e Human Touch abriram o concerto e depois tivemos a tal viagem pela discografia. No público sentiu-se que temas como Sweep Me Off My Face ou Waiting Around For Grace já são património global e que todos temos os Pond como nossos.

O set dos Pond termina ao som de Moth Wings e da melancólica Toast, provocando uma certa ambiguidade saudável no recinto do Levitation. Estavam lançados os dados para receber-mos os Kikagaku Moyo

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Eis que chega o momento alto da noite, o concerto dos Kikagaku Moyo, referência no rock psicadélico japonês e mundial que anunciou um hiato indefinido, o que para muito é o fim da banda mas para nós, aqueles que vêm sempre o copo meio cheio, acreditamos mesmo que vamos ter uma pausa para descanso, tal como outras bandas fazem sem gerar grandes depressões.

O concerto dos nipónicos inicia-se num modo mais introspectivo, e o setup da banda em palco mostra-nos uma união espiritual apenas capaz daqueles que sabem o chão que pisam. As texturas mais tranquilas que arrancaram o concerto vão gradualmente dando lugar à construção de uma atmosfera mais intensa que termina com explosões febris de inspiração mais ocidental do garage rock.

Enquanto o concerto vai caminhando para o seu apogeu, a união do publico com a banda torna-se imaterial e todos somos parte daquilo que estamos apaixonadamente a vivenciar.

A banda em cima de palco está visivelmente feliz e isso é notório e ninguém quer que os Kikagaku Moyo nos deixem assim, depois de uma hora perfeita.
Terminamos assim o sugundo dia de festival, completamente estasiados.

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kevin morby levitation
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