É em ambiente descontraído, antes do concerto da banda no festival Fusing, na Figueira da Foz, que falamos com os Linda Martini.
Acerca do festival, vêem com agrado a participação apenas de bandas portuguesas e a preocupação em “promover o que é nosso”, rodeados de bandas amigas e de quem gostam.
Quanto ao facto de existirem muitos festivais em Portugal, “eles têm estado cheios, é porque há mercado. Mas era bom haver uma consequência disso nos concertos mais pequenos e haver uma continuidade ao longo do ano.”
Consideram que existem muitas e boas bandas em Portugal, cada uma com o seu espaço.
Quanto ao seu lugar como banda de culto: “não há uma altura em que nos apercebemos e temos de arranjar um encaixe. Foi crescendo aos poucos. Foi uma coisa construída ao longo dos anos. Se calhar não nos conseguimos aperceber tão bem porque foi uma coisa construída e que foi crescendo gradualmente. Mas se existíssemos há dois meses e tivesse acontecido, sim era uma diferença monstra. Foi naturalmente crescendo e acho que sempre nos sentimos surpreendidos de alguma forma mas vais-te habituando. Sempre com muita gratidão, naturalmente, porque tens pessoal que gosta de ti e que te apoia, o que é muitíssimo importante. Mesmo em concerto temos um público muito próximo, isso também ajuda à nossa entrega e há uma interacção, isso é muito importante.”
Novo álbum – ansiedade?
“A ansiedade é para nós fazermos o melhor que conseguimos ou que queríamos fazer e chegarmos a um ponto que estamos de acordo e que estamos satisfeitos. A ansiedade é para connosco próprios, depois a partir da altura que tens o disco fechado e achas que fizeste o melhor, é mais curiosidade do que ansiedade. Pensar como será que o pessoal vai lidar com isto. Estamos um bocado nessa fase. Temos o álbum gravado, agora é ver quando lançarmos se o pessoal gosta ou se não gosta.”
Quanto às reacções ao primeiro single: “ têm sido óptimas. Acho que num curto espaço de tempo foi o nosso single com mais views no youtube, portanto… para já está a correr bem, as pessoas têm mostrado boas indicações.”
A banda disponibilizou um formato de pré-venda do álbum com bilhete para concertos em Lisboa e Porto, uma forma de “dar mais qualquer coisa aos fãs” numa altura em que “as pessoas perderam um bocado o hábito de comprar música, isso para uma banda não é bom obviamente, mas na verdade as bandas vivem mais de concertos do que da venda dos discos. Mas o público que goste de nós e que seja fã acho que vai continuar a comprar os discos. “
Festivais vs salas
“São concertos muito diferentes. Não são comparáveis. Por acaso foi engraçado porque tocamos no Alive e vês um mar de gente e depois o concerto seguinte foi em Castelo Branco e tocamos para cento e tal pessoas, em auditório. E é diferente, a tua entrega é diferente, estás mais exposto num auditório com menos pessoas, a interacção é muito mais próxima. Num festival tens aquela imponência de ter tanta gente aos saltos a ver-te. Mas não temos preferência. O ideal é o que temos tido oportunidade de fazer, as duas coisas. Não somos banda de estádio mas funciona. Também nos conseguimos afirmar em palcos grandes. Idealmente um palco mais pequeno é capaz de ser propício a um melhor concerto nosso mas é tudo muito subjectivo. O ideal era haver um circuito de clubes como a sala 1 do Hard Club, mas não há…”
Dez anos, tempo de balanço
“Bom. Positivo. Estamos aqui a falar hoje por isso já é positivo. Continuamos a tocar, temos um disco para lançar, já pensamos em querer fazer músicas novas e reinventarmo-nos. Continuamos de boa saúde como banda e com vontade de fazer mais, continuamos amigos ou até mais amigos do que éramos.”
Trabalhar em conjunto. Fácil?
“Não. (gargalhadas…) Nunca é fácil trabalhar em conjunto. Quem diga que é fácil, mente. Toda a gente tem um ego, por maior ou menor que seja. Numa banda é sempre complicado fazeres música que agrade a quatro pessoas. Tem sempre de haver cedências. Como banda acabamos por ser muito democráticos e então essas cedências são sempre todas muito conversadas. Nós temos demorado algum tempo a fazer discos, e acho que tem muito a ver com isso. Não há conflitos nem zangas mas as coisas demoram o seu tempo.”
Como… um casamento?
“É. Quando o Sérgio saiu da banda nós tivemos mesmo essa sensação. Parece que estás a terminar uma relação e é muito complicado porque não vais estar mais com aquela pessoa naquele contexto. Não é um processo fácil de se ultrapassar. Depois ultrapassa-se, como nas relações, ou não…”
A saída de Sérgio Lemos, guitarrista e membro fundador da banda, antes do lançamento do segundo álbum, foi apontado como um dos pontos marcantes destes dez anos.
Como um dos pontos altos uma experiência internacional com passagem por Dublin, Waterford e Londres “com o material às costas no metro”.
A vontade de fazer mais coisas lá fora existe mas faltam oportunidades.
Não que cantar em português seja um impedimento. É…”exótico”.
Exóticos ou não, os Linda Martini continuam apostados em conquistar os cépticos e manter os fiéis.
Venha o Turbo Lento. Estamos à espera.
Texto: Liliana Castro
Fotografia: Nuno Coelho