A inveja é uma coisa muito feia. Mas há a “boa inveja”, aquela na qual invejamos com um sorriso na cara o trabalho de outra pessoa sem ter nenhuma vontade de o denegrir. Uma das minhas grandes invejas é não ter inventado o slogan “Seriamente na boa”. Tenho inveja de Mac Demarco em vários sentidos. Primeiro tem aquela onda caribenha, embora seja canadiano, de que se o mundo estivesse a acabar haveria de tocar uma guitarrita roufenha até o final. Outra inveja assalta-me ao perceber que o tipo tem apenas vinte e três anos e vai no seu terceiro álbum.
Salad Days é um álbum sem pretensiosismos. Neste nosso tempo de imagens e consultores de penteados é refrescante ter um artista em cuja honestidade despojada se possa confiar e este disco está repleto de músicas para malta feliz enquanto desce, despreocupadamente, uma qualquer avenida usando um skate. Há até nas canções mais solitárias uma redenção sorridente como em “Chamber of Reflection”, “Let my Baby Stay” ou “Blue Boy” com um final adocicado que não nos permite, lá está, levar Demarco demasiado a sério.
É um disco de contextos específicos. Vai cair na perfeição como banda sonora em alguns e como cacofonia noutros. É um bom disco de Verão, cheio de jingles orelhudos para anúncios de refrigerantes mas que me parece ter pouco espaço para audição repetida. Não existem muitos artistas como Demarco mas há competição cerrada de bandas com tipos acima dos trinta. Até nisso Salad Days é suavemente invejável na sua “indieness” de se estabelecer num mercado próprio feito de fans.
No final, Mac despede-se dos ouvintes agradecendo por se terem juntado a ele. Este pequeno piscar de olho, todo simpatia pueril, confirma a ideia de que este álbum podia ter sido feito no chão da nossa casa ou nas águas furtadas do nosso bar favorito.