Que te traz
De novo ao mar que o céu, de negro
Pintou mais alto
Para ti.»
Se com Dá, Márcia confirma eloquentemente o valor em potência do seu curto registo com a Optimus Discos, com o seu mais recente Casulo afirma-se, acima de tudo, como valor incontestável nesta coisa de escrever em português.
Acompanhada por melodias não particularmente memoráveis, é na sua voz (e que voz!) que se centra a atenção no decorrer deste álbum, que conta, ainda assim, com um par de instrumentais que ajudam a dar à narrativa o ambiente certo. Aquele que melhor se adequa ao espírito tão português, de um cinzento tão rico, que nos devolve alguma sensação de pertença, apesar do desalento. Aquele tipo específico de tristeza que só nós somos capazes de sentir (ouvir Márcia além fronteiras é perceber que não há como fugir ao nosso fado).
Mais coerente, mais maduro e mais certeiro, este não é um trabalho que se preocupe demasiado com singles (mesmo o poder comercial de Menina – canção partilhada com Samuel Úria – parece vir mais das forças internas que movem o tema, em torno de uma letra que é quase um hino, do que propriamente da vontade de acrescentar mais uns euros ao que quer que seja), é antes registo atento de um momento específico da nossa história. Decantado pela subtileza do trato, familiar, como quem dá os bons dias, leve e despretensioso. É preciso ouvir nas entrelinhas para entender a elegância deste discurso.
«O rumo é estar a andarTomara nunca hesitar.»