Terceiro e último dia do festival que abre as portas deste verão. No geral com um bom balanço, algumas surpresas, alguns contratempos (até demais!) mas com a sensação de dever cumprido e que para o ano há nova edição, de preferência sem cancelamentos.
E por falar em surpresas, os Terno abrem o Palco SEAT ainda com o sol bem alto. Com 4 discos editados, a banda paulista já conta com alguns quilómetros de estada e muitas horas de palco. Isso reflecte-se no à vontade e na interação com o público. Tim Bernardes dá voz a este colectivo que une o rock com o que mais característico existe na música brasileira, fundindo sonoridade harmoniosas com intensidades aqui e ali mais ásperas. No fim, ficou o sentimento de saber a pouco. Fica aqui o convite para uma digressão pelas nossas salas.
Entretanto no palco Super Bock os Primeira Dama vão animando as hostes que estão ansiosas por rever Lena D’Água, uma carismáticas figura da música nacional dos anos 80 em Portugal. Os clássicos de sempre de Lena D’Água compõem o curto repertório dos Primeira Dama, mas os ambientes de ambos culminam numa bela sessão de música ligeira.

A passagem de sons melancólicos e ligeiros para uma espécie de punk rock contemporâneo interpretada pelos suecos Viagra Boys é feita duma forma tão natural que nos deixamos contagiar pela insanidade que tem origem em cima do palco SEAT. A banda liderada por Sebastian Murphy estreou no NOS Primavera Sound o seu álbum de estreia Street Worms, um disco que exalta a boa psicose deste colectivo, onde o álcool também fez parte da actuação. A intensidade e a atitude está toda lá. Musicalmente, os Viagra Boys são complexos. Não se limitam a distorcer guitarras e a baterias ritmadas. Há muito mais além da sujidade e da postura menos consensual que para nós faz todo o sentido em Viagra Boys. Mais um caso para pedirmos concertos em nome próprio!
Hora de um dos momentos mais aguardados do festival. Jorge Ben Jor, icone da música brasileira, pioneiro do movimento Tropicália que fundiu o rock psicadélico com as sonoridades tradicionais brasileiras como o samba, MPB ou o ié-ié-ié, encheu o palco NOS às 19h50 com a sua banda, que não deixa nada faltar. Um quase pôr de Sol que se alinha com todos os acordes, notas, graves, e sobretudo, com todas as ancas que não pararam de mexer durante aquela uma hora e dez minutos que Jorge nos presenteou.

O carioca de 74 anos trouxe em grande a Primavera ao festival. Conhecido por ser o dia com mais afluência, creio que saímos todos de lá com o coração bem mais cheio e com o pó bem sacudido. Entre êxitos de funk, MPB ou samba, houve espaço para “A Minha Menina” dos Mutantes. “Mas Que Nada”, “País Tropical” e “Filho Maravilha” não poderiam deixar de faltar e fecharam a atuação, que por si só, foi bastante tropical.
Ainda Jorge Bem estava a abandonar o palco NOS, Amyl & The Sniffers já estavam subir ao palco Super Bock e desde cedo começava-se a perceber no que se ia tornar a coisa. De 4 a 5 filas de pessoas até quase todo o espaço deste palco ficar repleto passaram poucos minutos. O Punk não tem de ser bonito, afinado nem limpo! Amyl é a antítese disto tudo, mas tem o que precisamos para saber que é a pessoa certa no momento certo. Quase que podíamos dizer que este foi um concerto para feios, porcos e maus, mas a democratização da música já permite que o Punk seja encarado doutra forma e acima de tudo com outra atitude. Com um disco homónimo editado já este ano que tem recebido o melhor que a crítica da especialidade tem analisado nos últimos tempos, Amyl e os seus The Sniffers foram surpresa da boa para quem não sabia ao que ia e superaram as expectativas dos que já estavam a contar com a avalanche que sofremos.

Eis que todo o alvoroço se torna em redor do palco principal, mais uma vez. O motivo? Rosalía. A jovem Catalã de 25 anos entra em palco para arrasar. Acompanhada pelo seu coro, bailarinas e El Guincho, Rosalía prova a força que tem até para desmistificar a dúvida dos mais céticos. Fez questão de trocar palavras com o público, entre as quais “Porto vos quiero mucho!” ou “Quiero mucho hablar português,” mal ela sabia que nós já estávamos conquistados.
É com o tema “Catalina” – tema do seu primeiro álbum “Los Angeles”, que Rosalía coloca tudo para fora e deixa o público num silêncio imenso, de tal forma assustador. O Flamenco enche-nos a alma, e não existe espaço para mais nada. Êxitos que tem com James Blake e J Balvin não foram esquecidos, e a artista mostrou o seu protagonismo da melhor forma. Uma belíssima mistura de Flamenco Pop, Reggaeton e Folk, apenas serviu para reforçar que o brilho de Rosalía, pode e deve crescer mais. “Brillo”, “Barefoot in the Park”, “Bagdad”, “Aute Couture” e “Malamente” fecharam a noite, mas, deixaram abertas as portas para a artista regressar – e assim o esperamos.

No palco SEAT, Modeselektor actuavam ao vivo em potência máxima, talvez demais até para as 23h45 que marcavam no relógio. Porém, o palco estava cheio e o público fazia a festa da melhor maneira possível.
O Palco NOS fechou a sua edição 2019 com um nome que dispensa apresentações. Erykah Badu inicia o concerto com 30 minutos de atraso, o que provocou algum desconforto, pois muitos já se mostravam extremamente ansiosos pela actuação da norte americana. Mas a forma animalesca como Erykah Badu presenteou o público que resistentemente permaneceu para assistir à actuação desta diva da Soul fez com o atraso ficasse para segundo ou terceiro plano.
Com uma exuberante coroa de penas e todo um colectivo músicos, Eryka Badu foi dando início à sua acção de formação de como a Soul deve ser interpretada, obviamente primorosamente acompanhada por uma banda competente onde se sobressaia um baixo poderoso.
Assim terminou mais uma edição do NOS Primavera Sound. Sem dúvida a mais eclética, sem uma tribo dominante. Brevemente faremos o balanço duma edição que mereceu algumas críticas do público mas que cumpriu com os objectivos.
Para o ano, de 11 a 13 de Junho, estaremos por lá!
