Começou ontem a época dos festivais nacionais e como é habitual, o Primavera Sound Porto abre as hostilidades dos festivaleiros.

O Primavera Sound Porto sempre se mostrou como um festival citadino que marca pela diferença na escolha do cartaz que nos últimos anos tem adicionado algumas sonoridades que viajam mais pelo mainstream mas mantendo alguma precisão na e critério na escolha dos músicos.

Pelo ambiente do festival é comum dizer na cidade que este é uma espécie de Coachella nacional, quer pelo caracter mais elitista do festival, quer pela envolvência do mesmo. É fácil reconhecer os “influencers” e artistas no meio do público, revelando a identidade deste festival catalão, que prima sempre por uma identidade urbana do público.

Este ano o festival teve algumas alterações na planta do recinto, ficando o palco Porto, nome do palco principal, ao fundo numa zona mais alargada da entrada, fruto de obras de melhoramento do recinto do parque da cidade mantendo os outros dois palcos nos “anfiteatros” naturais. Entre estes dois espaços e o palco Porto teremos o palco Plenitude num espaço totalmente novo no recinto do evento.

As alterações ao recinto têm como fator positivo menos espaço verde ocupado o que permite à vegetação envolvente uma menor interação do publico e por esse motivo, um menor impacto na fauna e flora do Parque da Cidade do Porto.

Com a chuva a ameaçar marcar presença, e todos sabíamos que ela ia chegar, arranca o Primavera Sound Porto 2023 ao som de Beatriz Pessoa com sonoridades ligeiras, que passam pela pop com algumas influências de jazz e ritmos tropicais como a bossanova. A cantora lisboeta tinha assim a responsabilidade de abrir o festival e o palco Porto diante de uma plateia que já obrigava a algum respeito.

Numa atuação leve e melodiosa, Beatriz Pessoa foi dando uma cor especial a um dia que estava cinzento e que tinha uma fauna maioritariamente ligada ao hip hop e que se torna difícil para outros géneros musicais.

No palco Vodafone da-se início ao concerto de Georgia e a fusão eclética de da pop com a eletrónica, criou uma sonoridade única e contagiante. As musicas de Georgia foram dançadas e vividas intensamente por uma plateia ansiosa por momentos como estes ficando a cover de Kate Bush, Running Up That Hill a assumir o protagonismo de toda uma atuação intensa e vibrante.

Segue-se Alison Goldfrapp, cantora e compositora, imagem e voz dos Goldfrapp, chega à cidade do Porto com o seu primeiro disco a solo mas combinou toda a sua atuação com temas marcantes dos Goldfrapp como Train, Rocket, Ooh La La ou Strict Machine.

Alison Goldfrap é já um icone da indie eletrónica e trouxe consigo todo um legado importante e de respeito que marca presença pela sua importância num contexto musical independente e será fácil de perceber que as músicas de Goldfrapp sejam melhor recebidas do que as de The Love Invention que ainda precisam do habitual período de maturação.

A noite continua ao som de Holly Humberstone, menina bonita da pop rock inglesa que depois da presença no Palco BBC Music Introducing e desde então a única direção que conhece é a da ascensão quase meteórica, tendo culminado com o Raising Star Brit Award em 2022. É então por mérito próprio que chega ao Primavera Sound e tem diante de si uma plateia respeitável que conhece todos os temas de fio a pavio. A cantora inglesa mostrou-se sempre muito comovida com a participação expontânea do publico proporcionando em alguns momentos alguma emoção.

Mas a noite era do Hip Hop e Baby Keem sobe ao Palco Porto para uma atuação muito aguardada pelos fãs deste movimento urbano. Boby Keem apresentou-se em palco com a responsabilidade de anteceder Kendrick Lamar, mas o trabalho que tem desenvolvido desde 2019 onde já colaborou com Kanye West são garante de uma hora de música e de uma actuação condizente com o estatuto do músico californiano.

O público recebeu cada tema de Baby Keem da melhor forma possível e o músico apenas teve de expor em palco o seu ainda curto repertório mas que lhe dá a possibilidade de subir ao palco principal de um dos maiores festivais da Europa.

É já com um autêntico dilúvio na cidade do Porto que chega o momento para os The Comet is Coming no Palco Vodafone. Este que era para nós um dos concertos mais aguardados do primeiro dia foi de alguma forma incomodado pelas condições climatéricas adversas que nos impossibilitou de capturar imagens do concerto.
A atuação do trio londrino não podia ser mais reveladora das nossas certezas. A banda sentiu o peso da responsabilidade de atura para uma plateia que não arredou pé e proporcionou um espetáculo que roçou a genialidade musical que o jazz tantas vezes nos oferece.

A noite não podia terminar sem o concerto que Kendrick Lamar. Este foi daqueles concertos em que o músico poderia apenas existir em palco que a noite já teria sido ganha para todos os que aguentaram a chuva intensa. Kendrick Lamar percorreu a sua discografia na plenitude com o momento mais alto já perto do fim em Family Ties, uma cover de Baby Keem com o próprio em palco.

A noite foi difícil para todos os que não se amedrontaram da chuva e permaneceram resistentes até ao fim.