Música eminentemente instrumental quer-se com camadas de som para que cada nova audição seja uma oportunidade de destapar alguma nota oculta, um detalhe por mais pequeno que seja e que passou anteriormente despercebido. Para os PAUS isso não parece ser problema. Além da bateria siamesa que nos concertos impressiona à chegada e convence mais tarde já devidamente tripulada pelos dois pilotos, também a electrónica e o baixo se conjugam numa estroboscopia sonora explosiva. E onde há explosão há Clarão.
Clarão é então o compreensível e adequado nome dado ao segundo álbum de PAUS e é por outros temas igualmente bem denominados que viajamos neste curto passeio de dez paragens. Além da declaração de intenções no single de avanço “Bandeira Branca”, há apoteoses metálicas em “Cume”, “Pontimola” e “Nó”. Há também aproximações a uma elctrónica mais introspectiva em “Ambiente de Trabalho”, “Cauda Turca” ou “Primeira”. Não há, o que é até surpreendente, duas músicas sequer semelhantes.
PAUS defendem em concerto que se deve abolir a má onda. Este disco está desenhado para essa abolição até na artwork do disco ao quebrar a velha regra que dita ser proibido colocar alguém de costas na capa e na gravação em vinil num disco verde transparente. É um disco para gente que gosta de PAUS e de coisas bonitas. É um disco para gente boa onda.
Em conversa amiga dizia-se que PAUS têm tudo para serem uma banda de sucesso mundial. Nada melhor que a lista de importantes festivais europeus e americanos onde actuaram nos últimos dois anos para sustentar essa opinião. Mas o disco de verdadeira explosão ainda não vai ser este porque lhe falta um hino. Falta aquela canção que a malta da boa onda cantarola pelas ruas; contagiada. E não é preciso vender a alma ao demónio radiofónico e “emburrecer” ou tornar mais mainstream a música que tocam. O tal hino de que falo está ao alcance de um acaso, a um momento mais iluminado que rasgue a continuidade. A continuar assim vamos ser ofuscados continuamente por maiores e novos clarões oferecidos pelos PAUS.