Já lá vão 22 anos de muita música, muita qualidade e muita independência. Só assim foi possível ao colectivo mais resistente de Seattle alcançar o patamar que conseguiu.
A música sofre mutações constantes e isso passou-se com as críticas e opiniões que foram sendo formadas aos Pearl Jam. Durante muitos anos, a crítica musical escondeu-os injustamente debaixo da sombra dos Nirvana, desrespeitando o processo artístico e a veia criativa dos Pearl Jam. Ten, Vs, Vitalogy, Yield, Binaural ou Backspacer são discos que marcam o seu tempo, sendo que o antecessor de Lightning Bolt marca uma viragem na composição e que de certa forma dá origem a este disco.
Os Pearl Jam, através desta independência, conseguiram sempre criar temas que andaram afastados das playlists, e marcaram um caminho afastando alguns ouvidos mais duros, mas chamando até si os verdadeiros music lovers.
Quando Backspacer viu a luz do dia, muitas foram as críticas ferozes dos desalentados que esperam que o processo criativo seja igual ao fim de 20 anos. Mas Backspacer veio abrir um novo caminho para Lightning Bolt e para discos futuros.
Para uma banda Rock, o tempo é sempre sinónimo de alterações à sua sonoridade. De Ten para VS a evolução foi notória. De VS para Vitalogy ainda notou-se mais essa evolução, e por aí fora.
Quando ouvimos Mind Your Manners, primeiro avanço de Lightning Bolt, a reacção foi, WOW! Poderoso… e ficou no ar a ideia que vinha aí um disco de “roda levantada” de início a fim. Mas essa ideia morreu quando recebemos Sirens. Sem querer dramatizar, acredito que esta seja mesmo a pior faixa do disco. A carreira dos Pearl Jam está preenchida de temas lamechas, mas que se demarcam dos demais. Dou como exemplo Black, Oceans, Indifference, Nothingman, Light Years ou mesmo Love Boat Captain. Sirens é um tema que foge para as playlists duma forma como uma criança para o colo da mãe quando está amedrontada. Definitivamente, Sirens não trás nada à vastíssima discografia dos Pearl Jam, mas que surge aqui, fruto da idade. Mas continuamos a pensar, quem faz Mind Your Manners, não podia cair neste erro… Concordo!
Mas Lightining Bolt começa muito bem, com Getaway, Mind Your Manners e My Father’s Son. O rock está vivo! Sim! Depois vem Sirens e vou ficar-me por aqui.
Lightning Bolt e Infalible são temas tipo do que os Pearl Jam andam a criar, um rock melodioso que não sendo “comercial” encaixa bem nas no nosso palato auditivo.
Pendulum é o tema que me deixa mesmo irritado. Trava-se, mas com “pinta”. Trava-se, mas deixa-se de lado o facilitismo. Pendulum é talvez um dos temas mais fortes de Lighting Bolt. Ficamos hipnotizados com o desejo de deixar o “repeat” activo.
Swallowed Whole caminha novamente para esta nova vertente criativa de Lightning Bolt e Infalible.
Let The Records Play é um tema onde os Pearl Jam exploram um pouco do blues, e até sairam-se muito bem. A harmonia presente neste tema é contagiante, e levanta-nos para um pézinho de dança.
Estamos a chegar ao fim do disco e Sleeping By Myself, tema repescado de Ukelele Songs, embala-nos numa canção “bonita” que certamente vai deixar muitas meninas derretidas.
Yellow Moon e Future Days são temas em completa desaceleração, algo característico nos últimos registos discográficos do colectivo de Seattle.
Estamos a falar de um bom disco. Mas quem nos surpreende com temas como Mind Your Manners, Pendulum ou Let The Records Play não pode cair no erro do facilitismo.