Uma vez mais cumpriu-se a tradição de homenagear Luís Lima, jovem falecido em 2102 que tinha um enorme sentido solidário e uma paixão pela música semelhante.
Este ano, o cartaz contou com nomes como Dead Combo, The Parkinsons, Glockenwise, Conjunto Corona ou os italianos Go!Zilla. Mais uma vez a diversidade musical foi forte viajando do rock ao hip hop com paragens por sonoridades tradicionais, pop e mesmo o psychobilly.
A tarde começou bem cedo no Centro de Arte Oliva com um pequeno concerto surpresa de Nuno Rodrigues, vocalista dos barcelenses Glockenwise que assina a solo como Duquesa.
Entretanto no recinto do Oliva Creative Factory estava tudo preparado para se iniciar, desta vez, num palco criado numa espécie de roof top do rock, onde os Melquiades e os Galo Cant’Às Duas tornaram-se nos anfitriões desta sexta edição do festival sanjoanense.

Enquanto que os Melquiades abrem o palco com o seu rock progressivo e experimental, onde contaram com a “ajuda” do saxofone de André (Jibóia). Com uma performance segura, o quarteto lisboeta foi conseguindo chamar o publico até ao terraço do Oliva Creative Factory, deixando todos presos e a mexer o pé.
Com o Sol ainda bem alto, os Galo Cant’Às Duas trouxe até São João da Madeira mais algum experimentalismo relacionado com o Rock duma forma bem forte. As precursões de Gonçalo Alegre imiscuem-se com a bateria de Hugo Cardoso gerando uma sonoridade complexa mas cativante.
Com o Sol a começar a perder alguma força, descemos para o Palco Alameda, onde as hostilidades são abertas pela força do rock psicadélico dos Astrodome. A banda que viajou do Porto para o Party Sleep Repeat conseguiu transportar-nos para dentro de um caleidoscópio deixando-nos atordoados com a intensidade do seu psicadelismo. Esta é sem dúvida uma banda a ter debaixo de olho nos próximos tempos.

Jibóia é o senhor que se segue. Oscar Silva é uma confirmação da música nacional, trazendo as suas texturas mais esotéricas fundidas nas teclas e sopros de André e bateria de Ricardo Martins. Este trio faz de Jibóia uma viagem pelo mundo juntando sonoridades mais ocidentais com algum espiritualismo oriundo do oriente. Foi a sonoridade perfeita para o lusco fusco proporcionado pelo pôr do sol no Palco Alameda.
É já com a noite bem alta que o Conjunto Corona trás para São João da Madeira o já conhecido Santa Rita lifestyle. O trio de rappers gondomarenses fazem-se apresentar como é seu apanágio pelo Homem do Robe e o seu hidromel, fechando o Palco Alameda com as suas letras sem filtro e os bits do hip hop. Chino no Olho, Santa Rita Lifestyle ou Perdido na Variante já fazem parte do dia a dia de muitos, e quando a coisa é transportada para palco tudo se transforma numa festa brava. A noite não termina sem o bis de 187 no Bloco, um momento de exaltação que já é um ritual de dança agreste e que deixa os músicos num pedestal divino.

Tempo para recolhermos ao Palco Forno, sala principal do Party Sleep Repeat, para recebermos em Portugal os italianos Go!Zilla. Oriundo de Firenze, o colectivo italiano detentor de um rock psicadélico bem intenso mostram-se ao público nacional como uma banda bem competente, capaz de incendiar plateias com as suas texturas eloquentes e intensas. Para nós foi uma agradável surpresa que nos deixa à escuta de mais novidades dos Go!Zilla.

Está na hora de receber os Glockenwise. A banda de Barcelos já dispensa apresentações… ou talvez precise. Plástico, quarto disco de originais dos Glockenwise marca a viragem do rock para o pop. De Building Waves até Heat, a viagem já demonstra uma clara mutação nos ambientes da banda. Já é claro o abandono do punk que os consagrou enquanto banda para um rock mais cuidado e trabalhado. Plástico é como se fosse um risco no passado e a criação de uma banda nova. Isso é visível em concerto, pois nenhum tema dos 3 primeiros discos foi tocado, limitando-se a apresentar os temas deste novo disco.
Ficamos algo incomodados quando vemos uma banda que acompanhamos desde o início a perder alguma da sua identidade. Foi-nos por demais evidente que a banda atravessa uma espécie de depressão. A guitarra de Rafael parecia que ia explodir a qualquer momento tal era a contenção provocada pelas novas melodias.

Já passava da uma da manhã quando os Dead Combo subiram a palco. Com Tó Trips a chefiar uma nova formação, os Dead Combo foram exactamente aquilo que se espera. A competência desta “equipa” é algo que nos deixa cativado, pois não há falhas, não há entradas fora de tempo e não há desentendimentos internos. A guitarra de Tó Trips encandeia os restantes músicos e o caminho faz-se naturalmente.

Aproxima-se a passos largos o fim do Party Sleep Repeat 2019 e chegava a hora de aquecer as hostes. Os The Parkinsons são mais do que uma instituição do punk, rock ou música em geral. O cartão do cidadão até pode marcar algum afastamento da data de nascimento, mas a energia que Victor Torpedo, Afonso Pinto, Pedro Chau e Ricardo Brito (o puto de serviço) emanam não deixa ninguém indiferente.
A atitude dos anos 80/90 continua a mesma, associada a alguma insanidade característica do movimento punk. São muitos os anos de estrada, muitas histórias e ainda mais aventuras que o trio original que se juntou em Londres terá para contar, mas mais do que isso tudo, o espírito mantém-se intacto.

Os The Parkinsons deixam-nos sempre cansados mas felizes. Cada concerto do colectivo que agora regressou a Coimbra fica para sempre na nossa memória como “o tal concerto”. Aqui não há dias maus!
E é já menos de meia sala que os Cumbadélica iniciam a sua actuação, bem próximo das quatro da manhã, fundindo os sons tropicais com texturas electrónicas numa fusão dançante.


