A FlorCaveira já está consagrada na música nacional como uma fonte de grandes talentos, o que nos garante a continuidade de nomes importantes como é o caso concreto de Samuel Úria.
Samuel Úria muniu-se de grandes nomes para compor este longa duração, e Jorge Rivotti foi o primeiro a entrar com “Deserto” simples, melancólico e cativante, que nos dá vontade de abraçar que está à nossa volta.
“Lenço Enxuto” é o tema que se segue, que contou com a participação do carismático Manuel Cruz, e é aqui que temos a noção que estamos diante de um trabalho primoroso. Neste “Lenço Enxuto” a constante mutação entre Samuel Úria e Manuel Cruz ajudam-nos a embalar num mar de poesia e deixam-nos levar a um estado de quase limbo.
Com “Forasteiro”, tema já de 2012, Samuel Úria apresenta a sua costela de criador de temas radiofónicos com qualidade. Sim, este “Forasteiro” não é um tema pastilha elástica ao jeito da rádio cidade para tocar numa playlist e ser removido semanas depois. Estamos diante de um tema que foge ao resto do álbum no que diz respeito à sua sonoridade e que chama a si algum protagonismo que pela letra, quer pelo ritmo imposto.
Com um toque country, “Essa Voz” é um tema bem disposto que retrata uma bela voz e o silêncio precioso que serve de “prelúdio” a “Essa Voz”. Mais uma vez, Samuel Úria brinca com as palavras duma forma eximia.
Chegou a vez de Márcia partilhar o microfone com Samuel. Uma bela canção de amor que se torna quase imaculada com a voz suave e delicada de que Márcia impõe, encorpada pelo timbre mais grave e masculino de Samuel.
É com “Espalha Brasas” que chegamos a meio do álbum, e atingimos aqui um dos momentos mais fortes deste trabalho, onde o Banjo toma conta da melodia e é a espalhar brasas cantando que Samuel alerta-nos que “Se não falas irão cantar pedras rolantes”, numa clara referência ao Rock mais consumista.
O momento mais recatado do álbum chega com “Estrondo Mudo” acompanhado por piano e violino mas repleto de emoção.
“Pequeno Mundo” é sem dúvida um dos pontos fortes que nos trás um tema agreste, pouco amigo de ouvidos menos educados, que nos soa a uma reprimenda a alguém que enverga pela futilidade do que é acessório e vive nos seu “Pequeno Mundo”.
“Em Caso de Fogo” é compartilhado com Gonçalo Gonçalves, o auto intitulado cantor romântico abandonado, e claro, um tema onde o romantismo é empregue na sua mais profunda plenitude.
Estamos perto do fim, e “Armelim de Jesus” faz-nos sentir que Samuel Úria não elegeu temas para encher. Este “Armelim” é um tema que quanto à sua sonoridade é mais próximo de uma balada rock made in anos 90.
E é que chega o “Triunvirato”, com a participação de António Zambujo e Miguel Araújo, neste que é uma homenagem a Leonard Cohen, Johnny Cash e Bob Dylan, três ícones do universo musical.
Este trabalho é a prova que a música nacional está de óptima saúde, com letristas de elevada qualidade.
A Internet é efectivamente amiga dos ouvintes, mas lamenta-se a falta de espaço radiofónico para discos com esta qualidade, quer pelas playlists bubblicious, quer pela falta de representatividade de editoras como a FlorCaveira.