Samuel Úria, o Cantautor Lusitano

Samuel Úria, o Cantautor Lusitano

Dono e senhor do palco, dançando entre o humor e os jogos de palavras. Assim é Samuel Úria. Músico português, descendente e digno representante dos FlorCaveira, que em nome próprio tem cativado uma legião de fãs, fieis e comprometidos.

Aqui fica a nossa conversa com o cantautor antes do seu concerto na D’Bandada.

O que trazes contigo dos FlorCaveira?

É a minha génese enquanto fazedor de canções e de discos . A FlorCaveira é uma coisa que me acompanhará sempre porque mesmo que eu agora faça discos em estúdio e tenha coisas com uma produção um bocado mais cuidada, há sempre vontade de intercalar esses discos mais cuidados com discos mais selvagens. Esse lado artesanal por ser uma espécie de berço em que eu cresci, por muito que haja esta roupagem e produção, para eu estar relaxado e dar o melhor da minha música tenho sempre, pelo menos mentalmente, de regressar a essa fórmula FlorCaveira.

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Colaboração com outros artistas

É prazer redobrado. Não esquecendo a responsabilidade que existe quando se vai fazer um disco. Se nós conseguimos levar amigos para estúdio a coisa torna-se mais agradável e tenho a pretensão que isso se possa também reflectir nas canções. Se estás bem disposto a gravar uma coisa até a voz te sai melhor. Se estás a beber um copo com os amigos antes de ires para trás dos microfones, acho que as coisas saem de uma forma mais fluída, mais arejada. Ter colaborações de gente que se tornou amiga através da música acho que torna o processo mais fácil e deixa-nos com o peso maior na gratidão de estarmos a fazer música, uma coisa que gostamos, com gente que gostamos. É incomparável.

Sucesso

Não estava minimamente a contar. Não faço as coisas com o objectivo de chegar a um determinado patamar de sucesso ou mediatismo. E acho que isso se reflecte nas canções que eu faço. Não são propriamente canções fáceis mas é tudo, não só na música, esse aparente sucesso, o simples privilégio de se viver da música e todo esse acréscimo, é tudo luro. Para uma pessoa que gosta tanto da música como eu, estar a viver disso, dessa ambiência que vem por arrasto, é tudo lucro, não posso ter razões de queixa.

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Cantar em português – só assim faz sentido?

Sim, esse lado da expressão tem de ser completa. Se tem de ser completa tem de ser na língua que eu falo e que eu penso. Eu já tive, quando era miúdo, na adolescência, bandas em inglês. Não era que eu não domine o inglês mas para dizer as coisas que eu quero dizer tem de haver a Portugalidade que só existe na língua portuguesa. E depois também o português é um desafio, é uma língua que nos deixa mais desarmados, mais despidos e essa fragilidade que existe quando se está a cantar em português porque as palavras são pesadas, são difíceis. Quando nós as dizemos estamos mesmo a comprometer-nos com elas. Em inglês isso não acontece tanto. Eu acho que escolho muitos caminhos fáceis na vida mas isso de cantar em português é um caminho difícil que eu escolhi, mesmo por achar que tinha de me fazer um homenzinho a determinada altura e então o português vincula com esse lado mais exposto.

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De onde surge a inspiração para criar e compor?

É muito difícil capturar aquele momento em que eu me sinto inspirado. A inspiração de facto chega mas é muito difícil identificá-la e de onde ela vem. Vem de muitas coisas que ficam a flutuar no inconsciente. Depois quando chega a altura de escrever uma canção elas aparecem. E então até nisso sou uma pessoa grata por não ter que remoer muito e andar muito atrás. Há ideias que não passam por uma reflexão muito consciente e que me chegam na altura certa. Depois há um trabalho mais intelectual para desenvolver essas ideias. É um trabalho de as esticar, de as compor, de fazer um processo de as tornar mais bonitas, da métrica, das figuras de estilo. Isso já é um trabalho mais racional. Mas aquela faúlha inicial, aquela centelha, não consigo identificar de onde ela aparece.

Estado da música portuguesa

O lado quantitativo, tanta gente a fazer música neste momento, prova que está de boa saúde. Há muitas coisas, e no meio dessas coisas há coisas más mas acho que há muitas coisas boas também a aparecer. Há coisas novas a aparecer que têm interesse e que daqui a uns anos ainda se vão falar. Não é só projectos efémeros. A sociologia sobre este momento só se vai fazer daqui a uns anos com rigor, mas estou em crer que há muita coisa que está para durar.

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Futuro

Eu lancei um disco este ano e ainda há sítios onde não levei as canções. Este disco ainda tem algumas palavras a dizer. Mas não vou parar.

Assim esperamos.

Texto: Liliana Castro
Imagem: Nuno Coelho

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