Sábado 23, último dia do último festival do ano. Os chuviscos da tarde não ameaçaram ninguém, e segue a festa. Destacámos Curtis Harding, Orville Peck, o regresso dos belgas Balthazar e claro, a insanidade dos suecos Viagra Boys.
Começamos o dia ao som dos Zarco na Garagem EPAL. Ambientes suaves a piscar o olho ao psicadelismo, os colectivo de Lisboa são mais uma banda com identidade semelhante a Ganso e Capitão Fausto.
Corremos até à Estação do Rossio onde actuavam os Baleia Baleia Baleia. A banda criada na cidade do Porto apresenta-nos um rock puro, descomplicado, com uma atitude muito leve de quem está aqui para se divertir e fazer os outros sentir o mesmo. É sem dúvida uma das bandas mais capazes do momento.

No Tivoli Ady Suleiman tinha à sua frente uma plateia repleta de jovens, alguns ainda menores, sedentos de ouvir a pop mais electrónica do britânico de 27 anos que apresenta temas leves e fáceis de entrar no ouvido.
Das 21h às 22h Curtis Harding dá-nos uma bela lição no Coliseu dos Recreios, que ficou quase cheio em pouco tempo. Apesar de ser num grande espaço, Curtis teve o dom de tornar o seu espectáculo num encontro bastante casual e intimista para o público, que como já sabemos, é especialista em mandar calor e amor para o palco. O cantor americano adoçou-nos os ouvidos com os seus “Obrigado” e acordes de soul com bastante rock e festa à mistura. “Keep on Shining” e “I Need Your Love” marcam este inicío de noite e Curtis, precisamos te ver outra vez!

Orville Peck traz uma enchente à Casa do Alentejo, na Sala EDP. O músico Canadense lançou o seu primeiro álbum este ano, intitulado Pony. Como achamos que não podia ter sido melhor, arriscamos a dizer que naquela sala jazem uma das melhores do festival. Orville é um artista country, com muitos cowboys e Texas de pano de fundo. O que dizer de alguém que sobe ao palco com toda uma aura de de lord Elvis, nascido no Canadá e criado no Texas que promulga uma história de libertação sexual que se dá numa espécie “western contemporâneo”? Se isto não chega para garatir a vossa presença no próximo show deste cowboy musical, não estamos bem certos do que o fará. Impossível ficar indiferente à sua personna, declaramos obrigatório um bilhete de volta a terras lusitanas. Para além dos temas de Pony, tivémos covers bem divertidas, cujo comentário possível de se fazer, é um alto “Yeehaw!”.

Entretanto na Estação do Rossio os Gator, The Aligator trouxeram-nos um garage forte e intenso, bem ao estilo de King Gizzard, com temas altamente dançáveis. O colectivo barcelence estreia-se num palco grande, depois de um ano um pouco esquecido pela imprensa e rádios nacionais, mas a tempo de mostrarem a sua identidade garage e feroz.
Tivemos tempo para uma viagem no Super Bock Bus que estava “alugado” à excentricidade dos Sweaty Palms e que nos fez querer que a viagem não terminasse. Rock, punk, indie, tudo isto fundido e exaltado dentro de um autocarro que certamente necessitou de um reforço na suspensão.

Seguimos para Balthazar no Cinema São Jorge, ainda com memórias da Nilüfer. A confusão instala-se bem cedo do concerto começar, e tudo indica que a lotação iria ficar a 100%. E assim foi. O que retiramos do concert de Balthazar, é apenas a confirmação do que dissemos aquando do Paredes de Coura. Esta é uma banda super promissora, que ainda nao desapontou públicos, até muito pelo contrário. O público não se rende às cadeiras, e vemos uma plateia toda em pé ao fim da 3ª música. O rejubilo da banda ao ver o nosso entusiasmo é notório, e Maarten Devoldere decide visitar-nos na plateia. Apenas lamentámos o espaço não ter sido maior!

Ao mesmo tempo, na Estação do Rossio, os suecos Viagra Boys subiam a palco para uma das melhores performances do festival. Apesar da qualidade do som estar um pouco aquém daquela que seria desejável, os Viagra Boys foram apresentando o seu ainda curto repertório, mas a postura em palco é de umas verdadeiras rock stars, tendo em Sebastian Murphy o apogeu, com deambulações trôpegas em cima do palco, e muita cerveja à mistura. O saxofone faz-nos viajar directamente para Morphine apesar deste ser um som mais forte e cru.
Foram 2 dias repletos de boa música, como o povo gosta, e desta vez com mais tempo de antena para produções nacionais, com o hip hop em grande! Nos nossos desejos para o próximo ano, pedimos mais espaço para bandas como Balthazar ou Viagra Boys, que marcaram este último dia. Para os que ainda não conseguem ser omnipresentes, resta um coração partido. Para os mais sonhadores, restam memórias do fecho do festival do ano passado com Jungle no Coliseu, um momento que para nós, fica bem guardado no coração.

Texto: Carolina Rodrigues e Márcio Machado
Foto: Nuno Coelho