Um artista quando sobe a um palco, expõe-se ao público, expõe-se a quem pagou o bilhete.
Num mundo com as redes sociais e a instantânea transmissão de notícias, acontecimentos e boatos, onde o comum mortal tem acesso a email, facebook ou youtube na palma da sua mão, será legítimo um artista pedir para que não seja fotografado, filmado ou desenhado?
O preço dos bilhetes para concertos não é coisa muito barata, nem tem de ser. Estamos a falar de toda uma máquina que trabalha minuciosamente para que os artistas subam ao palco e proporcionem aos seus fãs momentos que estes guardarão para sempre, mas nos dias de hoje o público não se limita a guardar na sua memória o que viveu neste ou naquele concerto. Quem não tem um amigo que viu a banda A, B ou C num concerto mega promovido, e depois passou dois meses a ouvir os ruídos emitidos por um iCenas qualquer? Pois todos nós já passamos por isso!
Obviamente os artistas quando sobem ao palco, fazem-no para interpretar os temas que ouvimos em casa, no carro, no trabalho, no metro… é como se tivessem ali só para nós… mas é imperativo que os artistas tenham direito à gestão da sua imagem. Têm o direito de não se expor a quem não presenciou o espectáculo.
Gera-se aqui um conflito de interesses que não é fácil de resolver! O respeito pelos artistas tem vindo a decrescer, e por mais que se peça para que não se fotografe ou filme, há sempre alguém a tirar o seu iCenas do bolso para captar o momento!
Recentemente, alguns artistas já se insurgiram contra fãs que desde o primeiro segundo começaram a gravar todos o momentos. Não é certo que essa seja a melhor estratégia. É pouco provável que os promotores, proprietários de salas consigam ter uma equipa tão vasta de forma a parar todo o “ladrão de imagens”. Estamos diante de um dilema muito parecido com comprar discos ou sacar o mp3.
Tem que se encontrar aqui um meio termo, algo que não deve ser negociado, não deve ser imposto, tem de ser sensibilizado… Ainda me lembro de um concerto dos Placebo no Coliseu do Porto, há muito tempo, na altura que os telemóveis apenas eram usados para enviar mensagens e fazer chamadas, e na plateia não faltavam pessoas com uma câmara pronta para fotografar, sem que o segurança descortinasse. Brian Molko resolve culminar este clima de tensão e bem na frente do palco sai-se com “this is your time, this is your picture time”! Foi como que o palco se iluminasse. Toda uma plateia a fotografar a banda que posava para eles.
Este foi um dos momentos que mais apreciei ver num artista. É certo que o artista em questão sabia como atrair uma plateia, sabia ter os seus “star moments”, mas foi extremamente positivo ver como Molko resolveu toda a tensão existente na plateia. A partir desse momento, o público concentrou-se nos artistas, o publico viveu o concerto.
Esta poderia ser uma solução… permitir câmaras, durante 3, 4 ou 5 músicas… o público saberia que tinha aquele tempo para “martelar” os artistas e depois… viver o concerto!