A nave dos The Comet is Coming aterrou no Hard Club para convidar todos os presentes a uma viagem com destino indefinido. A fusão de jazz e eletrónica do trio londrino ecoou por todo o espaço, transformando a sala de concertos numa nave espacial em que os passageiros desconheciam o que se ia passar, mas ainda bem que ali estavam.
Guiados pelo teclado de Dan “Danalogue” Leavers, o saxofone de Shabaka “King Shabaka” Hutchings e a bateria de Max “Betamax” Hallet, numa exploração pelos dois álbuns lançados este ano “Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery” e “Lifeforce Part II” – que coexiste com o primeiro –, a banda arrancou o concerto com uma das músicas mais esperadas, “Summon the Fire”, que serviu de tónico para os primeiros passos de dança do público ali presente, seguida pelo tema “Blood of the Past” que conta com a participação da ‘rapper’ Kate Tempest, mas que na quarta-feira teve um tratamento apenas instrumental.

A viagem pelas várias sonoridades dos The Comet is Coming levou-nos a visitar planetas improváveis, com passagens pelo ‘techno’, ‘drum and bass’, ‘psych-rock’, os sintetizadores carregavam ondas de nostalgia que tanto nos inseriam em filmes de ação dos anos 80, como numa máquina de ‘arcade’ de um SuperMario interplanetário. Num momento eram Sensible Soccers, no outro Gogol Bordello com uma dose de Morphine.

É uma banda que vive em simbiose entre elementos e com o público, alimentando-se da energia que este emana. Os traços de improviso ouvidos em cada música, assim como os cerca de cinco minutos de solo em que cada elemento esteve sozinho, em palco, comprovam que se tratam de três individualidades extremamente talentosas, mas que a grande força está na cooperação. É um espetáculo com um propósito definido, mas é a viagem até lá chegarmos que nos transcende e transforma.

Antes do final do concerto, “Danalogue” explicou que o grupo procura uma nova maneira de fazer música e o som do futuro, em que, neste caso, “as músicas não têm letras, mas têm três diferentes personalidades” a fazer música no palco. Assumiu também que o conjunto não tem um líder porque funciona em dinâmica e é uma experiência, considerando que os “líderes de agora são uns psicopatas e sociopatas”.
O trio abriu o jogo e mostrou ao que veio: destruir a realidade imposta por conceitos ultrapassados e criar uma nova utopia sonora. Com base no que se ouviu no Hard Club, está na altura de todos nos juntarmos aos londrinos. Afinal, já não estamos aqui a fazer nada.
Texto: André Guerra
Foto: Sara Melo
