Num país tão sentimental e com tanta permeabilidade à língua inglesa como é o nosso, seria previsível que tivéssemos uma dezena de bandas de típico blues americano em plena actividade e com sucesso comercial a acompanhar. Temos o Tigerman, sim, mas até esse singular caso de sucesso e longevidade tem onde repousar os blues com os seus Wraygunn. Tinhamos os Tiguana Bibles que acabaram e temos Jack Shits e o grande Fast Eddie Nelson a crescer timidamente com a quantidade surpreendente de rockabillies portugueses nos estabelecimentos da especialidade.
Numa resposta a este ritmo lento de crescimento temos os The Ramblers com o seu primeiro longa duração chamado Wet Floor. O nome não podia ser mais apropriado, o ambiente musical que impera é o de bar motoqueiro cinematográfico com gente perdida em canecas de cerveja e banho por tomar. Este chão de que se fala, cheira a mau comportamento e más decisões, a paragem depois da fuga. É música a saber a erro cometido do qual não há redenção. Mas erros só mesmo na imaginação fértil de quem ouve porque nos riffs e nas letras não há uma nota dada ao lado ou frase mal colocada. A guitarra é infalível e a voz só viaja ao granulado que a película exige. Se um americano descobre a Rosie rapta-a para um filme do Tarantino e nunca mais a vemos.
Esquece-se rápido o handicap de esta ser uma banda de um género musical longínquo pois além dos constituintes da banda nota-se um apreço especial na produção deste disco. Há muito talento nos ouvidos de quem gravou este disco. O único defeito a apontar, que me parece ser mais um vício do próprio blues do que da banda, é ficar a impressão em algumas canções que o ritmo e a rima já foi ouvida noutro local, tocada por outras pessoas. Suponho que seja difícil fugir a certas sonoridades e aos temas sleazy do dirty blues.
Recomenda-se ouvir “Little Girl Trouble” em repeat, sem medo de cansar porque não cansa. Pontos altos são também “Carry me Back”, “Blues Nest”, “The Rambler” e “Witch’s Creed”.
Se os The Ramblers passarem num café, bar, cineteatro ou rua que fique num raio de 100 kms de vossas casas, vão sem hesitar. Gravem no telemóvel uma musiquinha ou outra e coloquem no youtube, o planeta agradece.